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quarta-feira, 6 de abril de 2016

Uma quarta-feira qualquer...

Acendeu a vela para enxergar o velho e querido rádio de pilha, companheiro único de suas noites de lua e chuvas. Fez uma curta oração, uma lágrima escorreu, sintonizou na estação predileta e antes da rápida voz ganhar espaço em seu quase vazio quarto, relembrou de glórias gravadas em seu peito, quando podia caminhar, correr, suar e cantar. A camisa surrada não lhe vestia mais, agora era um símbolo, lembrança de anos, quando mais lágrimas insistiam, teimavam em cair, eram secas pelo manto...


A narração do rádio era quase um tango, ora um samba, balão que subia e descia, um corpo de impedimento, uma cabeça salvadora, a defesa cantada e um grito suspenso. Em sua cabeça lembranças de sol escaldante, cimento quente, broncas e sorrisos e uma dança suspensa de bandeiras e papéis picados, canções importais. Ainda podia sentir o cheiro da grama molhada em noites de chuvas, do barulho das solas de sapato em noites de derrotas e principalmente da folia e abraços dos amigos que ficaram apenas nestas lembranças


Em uma rápida troca de passes, deixando confuso até mesmo seus pensamentos, o baque no peito e um grito de gol, era deles, não era poesia, sim tragédia, como um soco no estômago, sem ar, mentalizou um xingamento qualquer e ouvindo os detalhes do repórter de campo, culpou alguém pela raiva.


O sofrimento corria em suas veias, ouvia que nada dava certo e imaginava cada momento, será que poderia fazer alguma diferença seu coração batendo mais forte? Desespero era o que sentia, uma tristeza por não estar presente e pensava, que se lá estivesse, seu coração bateria tão forte naquele estádio que deixariam os adversários surdos. Neste momento outro grito e o som da massa ao fundo, era a música do gol, muitas lágrimas, o beijo no escudo, o agradecimento para todos os deuses...


Antes do apito final começou a fazer contas, não para o café do dia seguinte ou almoço, mas para a classificação. Aliás, nem lembrou que naquela quinta-feira seguinte teria que mesmo com dificuldades para andar, defender algum trocado, que dependeria de outros para tomar um café qualquer.

Foi dormir feliz, abraçado ao seu manto sagrado pois em suas contas, mais três pontinhos já garantiria seu time na próxima fase, e nada para aquele velho coração torcedor era mais importante naquela noite. Apagou a vela, deitou ao som dos comentários do rádio, antes de dormir, desligou e dormiu o sono dos justos e sinceros torcedores de futebol.