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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Aquele Reino...


Em um reino não muito distante, existia uma turma, aquela “panelinha” de sempre... Não eram amigos, na realidade, alguns apenas se aturavam, mas em busca de um mesmo “ideal”, dançavam a mesma música, uma moda arrastada e ruim, que ninguém gostava de ouvir, mas todos batiam palmas.

O Rei sentado em seu trono, saboreava um pedaço de carne podre, a Rainha era bela e vivia um conto de fadas, os ministros gargalhavam descontroladamente como idiotas úteis, os secretários se esbaldavam de restos, existiam também os assistentes que praticamente mendigavam farelos, enquanto os soldados massacravam as pessoas que sustentavam aquele circo de horror

No canto do salão um insatisfeito gritava, alguns bêbados aplaudiam, as prostitutas contavam notas, o juiz envolto em sua leitura interminável, os estudantes dormiam, a igreja endossava e o único jornal publicava receitas de tortas de maçã.

Aquele reino respirava o passado. Mesmo colorido, mesmo vivo, mas assassinando todos os dias o amanhã. Um reino escancarado, malicioso, explícito na sacanagem. O reino tinha uma enorme tristeza pela frente, mas que ninguém sentia, afinal a modinha ruim ditava o passo, lento e enfadonho.

O reino era tão improvável, que até o bobo da corte vislumbrava o trono.

Ninguém sabe o que aconteceu com aquele reino, ninguém...

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O Mundo de Juvenal

Juvenal quase não tinha amigos, pouco conversava com seus irmãos, esquecido muitas vezes, era apenas um corpo magrelo que pedia bênção e apanhava sem motivos. Tinha apenas um par de sapatos velhos, uma sandália achada na rua e poucas trocas de roupas. Seus óculos eram doados por uma igreja, mas ele não sabia rezar e fugia das missas.

Tinha medo das brincadeiras de rua, não gostava de falar muito, nunca havia tentado andar de bicicleta e também nunca havia chutado uma bola de futebol. Na escola, só pensava na merenda, sentia verdadeiro temor da professora que sempre gritava, tinha vergonha em não entender o que a maioria das pessoas falavam.

Havia apenas um lugar onde sentia-se bem, onde vivia sua felicidade, ouvia, entendia,conversava, era seu momento de alegria maior, as águas do rio que cortava sua pequena cidade... Brincava com os peixes, imaginava grandes e mágicos seres vivendo nas águas, nadava muito bem, conhecia cada parte, era como se ele próprio fosse parte do rio. E mesmo, quando outras pessoas, adultos ou crianças, compartilhavam do seu lugar, ele parecia alheio, não notava ninguém, era seu mundo.

Um dia, Juvenal, aos nove anos completos, desapareceu nas águas. As pessoas demoraram muito para perceber. Nenhum colega, nenhum irmão, até mesmo a mãe, que apenas sentiu falta, pois não tinha recebido o pedido de bênção e já pensava em castigar o menino esquisito.

Juvenal apenas voltou para seu mundo de água, em paz, para trás, deixou apenas o sofrimento

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

João

João cansou…

Cansou de ser o “João” do Mané, de correr para nada e cair sentado. Cansou de ser o palhaço, o velho pinguim de geladeira, o pobre desgraçado que sobrevive de migalhas de atenção, coadjuvante coitado, sorrindo para ninguém, calado

Cansou de levar sempre o mesmo drible, o lado direito. Não tem respeito, caiu como idiota, aplausos irônicos, um Maracanã de risos, uma foto humilhante, sente na alma o desprezo, a indiferença, olhando para o nada, derrotado

João cansou e reagiu…

Deu uma pancada violenta, assassina, no joelho da sua vida. Cuspiu no algoz, sentiu a hombridade da vaia, a expulsão gloriosa, a desforra como poderia ser, sem teatro, sem meias palavras

Desceu pelas escadarias do velho vestiário, recompensado pelo ódio alheio, com a camisa ainda suada de um esforço agora verdadeiro, um troféu vermelho, vivendo para sempre, pleno, consciente, perdendo ou vencendo.

João deixou de ser o “João” do Mané.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

O Andarilho

Um olhar distante e triste, um passo sem pressa, inverno de ventos que cortam a alma, garoa que molha, poça d’agua nas calçadas e um pé molhado, o antigo calçado pouco protegia. Assim caminhava um andarilho sem riso, sem expressão, atônito, perdido em lembranças vazias. Não pede, pouco olha, esqueceu palavras, nem mesmo consegue sentir a agora chuva fina gelada que molha suas roupas.

Um resto de pão no lixo, alimentando-se por instinto, não existe paladar, não recorda dos odores, sabores, apenas mastiga devagar. Esboça ruídos, algumas lágrimas acabam saindo, é quando consegue água, cada gole lento, parece ser á única coisa que ele entende, parece sentir ou gostar

Muitas vezes está sentado em um dos bancos da praça. Olha em direção ao chão, e acaba dormindo... O susto é quase sempre seu companheiro de despertar. Então, volta a andar sem rumo, sem álcool ou qualquer droga, nenhum cão o segue fielmente, o próprio não se segue e se desconhece, uma existência que não está registrada, sem nome ou documentos.

Algumas vezes o andarilho desaparecia, a figura magra, idosa, ficava dias, até semanas sem aparecer no centro da cidade. Quando isso aconteceria, o povo apostava, quando ou se não voltaria do sumiço . Não foram poucas as vezes que perguntavam por ele

Depois de um tempo, o andarilho já enraizado na cidade, não voltou. Sua vida não contabilizava, não era nem estatística, não possuía nenhum número.

Ninguém sentiu falta.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

A cor da minha saudade é azul

Aqueles lindos olhos azuis de uma tarde, ele não esquece, ela esqueceu, talvez. Era trabalho para ele, era mais um passeio para ela, era o verde do banhado, tons de amarelo em flores e tantos sonhos desconstruídos em uma noite fria e triste de julho.

São cores infantil, da doçura, meninas de queridas travessuras e risos inesquecíveis. São os pés descalços e caretas divertidas, é o bolo de cenoura e a água de filtro de barro, o copo da estrelinha e a certeza que a cor de rosa delas é a mais doce lembrança

Foram dias de tantas cores, que fez do cinza um tom diferente, que me ensinaram lições para tantas vidas, para tantas páginas em branco, aquela cor de sol de inverno luizense, aquela cor da beira do riacho, a cor do suco de abacaxi com hortelã...

A liberdade da alma, o querer bem, o amor, tem cores infinitas, mas a cor da minha saudades é o azul, o azul dos seus olhos.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

O roedor de osso

Aquele que não contou as jabuticabas, que não contou as pitangas e ficou rindo do tempo. Virei o medíocre, aquele do ego inflado, invejoso que cobiça o talento alheio.

Meus projetos continuam absurdos, quero conquistar cada coração que conheço, quero abraçar o mundo e ditar regras. Escrever o manifesto do fim do mundo, sem ao menos saber escrever.

Continuo criando normas inúteis, registradas em atas que nunca serão lidas. Abraço minha imaturidade eterna, celebrando reuniões sociais, discutindo política como um rinoceronte tentando ser o presidente da merda nenhuma.

E agora, lamento de estar, de ser apenas o roedor de osso. Fico triste em perceber ser o alguém que tem poucas jabuticabas na bacia, que convive com pessoas que talvez sejam menos humanas, que vibram com minha vitória inexistente e celebram as injustiças e um mundo vil e corrupto.

O Roedor de osso que caminha ao lado do nada.

Que ama em fraude

O roedor de osso sem essência.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

O Encontro

Em uma noite ele recebeu um telefonema que nunca mais esquecerá... Do outro lado da linha uma voz que informava, sua jovem esposa acabará de falecer, atropelada na região central da cidade. Um soco no estômago, um ar seco e pesado, a cabeça rodando, desespero e nenhuma lágrima.

Olhou para o berço e viu sua filha de pouco mais de um ano... Não sabia como seria, como viver ou sobreviver sem sua companheira, a mulher, a mãe a parceira de vida.

Aprendeu na marra, das fraldas ao vestido da festa junina na escolinha, das bonecas, do amor, carinho, sorriso, do choro sentido de ambos pela falta que ela sempre fez... Ela cresceu feliz, com amigos e amigas, tios e tias, primos, primas, avós, e ele, o pai.

Ele não teve outra mulher, não conseguiu encontrar uma parceira de vida. Ela cresceu ainda mais, virou mulher, estudou, trabalhou, e mudou para perto do mar...

Ficaram distantes. Ele ligava, queria saber se ela estava comendo direito, se estava bebendo água, como era o dia, a cidade, se tinha namorado... Ela só pensava em trabalho.

Ele pedia para ela vir mais vezes pra casa, que sempre seria dela, mandava mensagens, comprava os ingredientes da sua comida predileta e muitas vezes ela não vinha. Tinha muito trabalho ou estava cansada.

Ele queria ir, mas ela pedia, “espera mais uma semana”...

Um dia ele foi... Perdido em pensamentos de saudades, morreu atropelado, como a companheira que já havia partido há anos.

Estava mais fácil ver a esposa que a filha.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Receita de Tristeza

Primeiro, lembre-se de dias sem sol, de lágrimas, discussões e mágoas.

Depois junte um monte de pensamentos negativos e olhares perdidos, mentiras e misture com bastante desilusão...

Pegue um copo americano e encha de cerveja barata, em outro, uma dose de cachaça industrial, da mais vagabunda. Um trago de cigarro paraguaio ao som de alguma música cantada por alguma dupla de música "sertaneja universitária" atual.

Acrescente também a fatura do cartão de crédito estourada, o desemprego de meses, a vizinha chata, a pregação religiosa, o ônibus atrasado, ser enganado e um tornozelo torcido...

Finalize com um domingo chuvoso, a goleada sofrida no clássico e nenhum analgésico para tomar antes de tentar dormir.

E passe mais uma noite em claro!

segunda-feira, 27 de março de 2017

Para vender sonhos é preciso fechar os olhos.

Olhos claros sofridos, lágrimas secas pela tristeza, melodia da solidão, noites de luta sem sorrisos, dias amargos de ódio.

Um copo de alguma coisa sem gelo, flertes falsos, cigarros com pó e uma dança forçada. Sexo com alguém, e outro, quantas vezes, não existe fim. Nenhum abraço ou bom dia, apenas um chuveiro e uma Coca cola. Não precisa de almoço, mas sono.

Dinheiro de batalhas tristes, cortina cinza, velha, rasgada. Um beijo sem gosto, um tapa no rosto e muitos mundos diferentes, realidade assustadora, o relógio não para, o mundo também. Não existe nenhum modelo definido, cada qual com seu odor, suas frustrações ou desprezo. A rua não escolhe rosto, o caminho é curto e amargo.

Beleza roubada sem poesia, vidas secas sem sol ou sertão, o telefone precisa tocar, ela aprendeu que para vender sonhos, é preciso fechar os olhos e esquecer qualquer forma de amor.