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terça-feira, 24 de outubro de 2017

O Andarilho

Um olhar distante e triste, um passo sem pressa, inverno de ventos que cortam a alma, garoa que molha, poça d’agua nas calçadas e um pé molhado, o antigo calçado pouco protegia. Assim caminhava um andarilho sem riso, sem expressão, atônito, perdido em lembranças vazias. Não pede, pouco olha, esqueceu palavras, nem mesmo consegue sentir a agora chuva fina gelada que molha suas roupas.

Um resto de pão no lixo, alimentando-se por instinto, não existe paladar, não recorda dos odores, sabores, apenas mastiga devagar. Esboça ruídos, algumas lágrimas acabam saindo, é quando consegue água, cada gole lento, parece ser á única coisa que ele entende, parece sentir ou gostar

Muitas vezes está sentado em um dos bancos da praça. Olha em direção ao chão, e acaba dormindo... O susto é quase sempre seu companheiro de despertar. Então, volta a andar sem rumo, sem álcool ou qualquer droga, nenhum cão o segue fielmente, o próprio não se segue e se desconhece, uma existência que não está registrada, sem nome ou documentos.

Algumas vezes o andarilho desaparecia, a figura magra, idosa, ficava dias, até semanas sem aparecer no centro da cidade. Quando isso aconteceria, o povo apostava, quando ou se não voltaria do sumiço . Não foram poucas as vezes que perguntavam por ele

Depois de um tempo, o andarilho já enraizado na cidade, não voltou. Sua vida não contabilizava, não era nem estatística, não possuía nenhum número.

Ninguém sentiu falta.